Apesar de representarem apenas 5% da incidência global de cancro, os casos diagnosticados em adolescentes e jovens adultos (dos 15 aos 39 anos) estão a aumentar. Na Semana de Consciencialização para o Cancro em Jovens Adultos, é fundamental atenuar o impacto da doença na vida dos mais jovens, criando ambientes de trabalho seguros e solidários.
Quando os planos de vida mudam repentinamente
Stacey Carter, licenciada em saúde pública, tinha acabado de terminar a universidade e preparava-se para uma viagem com amigas por França, Mónaco e Itália, antes de começar o novo emprego como analista de políticas de saúde. Estava a viver uma fase entusiasmante — tinha comprado uma casa com o namorado e passava os fins de semana a procurar peças vintage para decorar o novo lar.
No entanto, semanas depois, recebeu o diagnóstico de cancro da tiroide. As dúvidas sobre como se iria adaptar ao novo emprego e cidade foram substituídas por outras muito mais angustiantes: conseguiria retomar a carreira depois do tratamento? Teria energia suficiente para uma vida ativa e profissional? E como iria lidar com as despesas — ou até com a ideia de ter um animal de estimação?
Esta história está longe de ser única. Os jovens adultos são o único grupo etário onde os casos de cancro aumentaram entre 1995 e 2020. E como estão numa fase de construção de vida, o impacto emocional de um diagnóstico precoce pode ser devastador.
O papel das empresas na recuperação
Os empregadores desempenham um papel crucial na vida dos jovens profissionais com cancro, ajudando-os a lidar com os efeitos da doença e a recuperar o equilíbrio e a motivação. Mais do que oferecer apoio pontual, é essencial criar uma cultura organizacional que promova a prevenção, a recuperação e a reintegração plena — não só para quem já foi diagnosticado, mas para toda a população jovem em risco.
De prevenção a recuperação: 5 passos para apoiar jovens adultos com cancro
1. Incentivar estilos de vida saudáveis e conscientes
Fatores como sedentarismo, alimentação desequilibrada, excesso de peso e ausência de consultas médicas regulares aumentam o risco de cancro e dificultam o diagnóstico precoce. Em muitos casos, os sintomas são subestimados pelos próprios jovens e até desvalorizados por profissionais de saúde.
As empresas podem:
- Formar gestores para reconhecer sinais de alerta;
- Promover campanhas de sensibilização sobre rastreios e vacinas preventivas (HPV, hepatite B);
- Apoiar hábitos saudáveis como pausas ativas, alimentação equilibrada e gestão do stress.
2. Criar uma cultura de confiança, flexibilidade e segurança psicológica
Muitos jovens evitam falar de saúde por receio de parecerem fracos ou pouco comprometidos. Criar um ambiente onde o bem-estar é uma prioridade e onde há abertura para dialogar sobre necessidades pessoais é essencial.
Permitir flexibilidade para consultas, pausas para autocuidado e liberdade para gerir horários reforça a confiança e demonstra compromisso genuíno com o bem-estar dos colaboradores.
3. Monitorizar riscos psicossociais para reduzir o stress
O stress crónico pode agravar comportamentos prejudiciais e afetar o sistema imunitário. Para quem está em tratamento ou em recuperação, o stress pode comprometer a resposta ao tratamento.
Ferramentas como o Avaliação de Riscos Psicossociais e o Estudo sobre Segurança Psicológica da WPO ajudam a identificar fatores de risco e implementar medidas corretivas.
4. Criar redes de apoio entre pares
Os jovens com cancro enfrentam frequentemente isolamento, pois muitos ainda não constituíram família nem têm redes de apoio sólidas. A raridade da doença nesta faixa etária dificulta o contacto com outras pessoas na mesma situação.
As empresas podem:
- Criar grupos internos de apoio (ex: sobreviventes de cancro);
- Promover programas de embaixadores de bem-estar;
- Estimular momentos de partilha e conexão.
Este apoio social é essencial para o equilíbrio emocional e motivacional.
5. Facilitar a reintegração com o programa Cancer Care Compass
Para além dos efeitos físicos e emocionais, os jovens enfrentam desafios específicos:
- Dívidas estudantis e instabilidade financeira;
- Incertezas quanto à fertilidade, relações e construção familiar;
- Dúvidas sobre o futuro e o sentido de vida.
O Cancer Care Compass oferece apoio integrado:
- Apoio emocional e psicológico;
- Coaching para reintegração profissional;
- Assistência nas tarefas do dia a dia;
- Ferramentas e orientação para gestores.
Com planos personalizados e acompanhamento contínuo por especialistas em reintegração (CORAT), os jovens sobreviventes conseguem recuperar autonomia e traçar novos objetivos com confiança.
Conclusão
Os efeitos do cancro vão muito além do diagnóstico. Jovens adultos enfrentam insegurança, cansaço crónico, ansiedade e um profundo impacto na autoestima.
Mas com o apoio certo e o compromisso das empresas, é possível reconstruir trajetórias e promover um verdadeiro regresso à vida. Mais de 90% dos sobreviventes afirmam que o apoio no trabalho foi essencial para a sua recuperação.
Ao apostar numa cultura de cuidado, empatia e reintegração, as organizações não só contribuem para o bem-estar dos seus colaboradores, como constroem equipas mais resilientes, humanas e preparadas para o futuro.